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sábado, 21 de novembro de 2009

Parto dentro de água- Uma Experiência que não deixarei de fazer quando for Mãe

Parto dentro de água



O testemunho de quem escolheu este método para dar à luz


Simão Pedro nasceu no dia 8 de Julho de 2008 com 2,840 gramas e 46,5 centímetros no Hospital da Ordem da Lapa, no Porto.

É o primeiro filho de Júnia e Pedro. Estes são os factos!

Se nos perguntarem em que é que este nascimento se distinguiu de tantos outros que ocorrem diariamente, temos o prazer de lhe responder que o parto decorreu dentro de água! E é assim que começa este testemunho...

«Optei por ter um parto na água porque queria um parto natural, sem recurso a medicamentos para indução do parto ou alívio da dor. A água no trabalho de parto e no parto propriamente dito permite o relaxamento dos tecidos, a libertação de hormonas facilitadoras e uma liberdade de movimentos que proporcionam maior rapidez e um alívio da dor considerável», começa por explicar Júnia Lima.

O facto de se sentir muito bem dentro de água convenceu-a de que esta seria uma óptima escolha para proporcionar ao seu filho Simão um nascimento suave e menos traumático, livre de medicamentos e procedimentos desnecessários. «Foi uma experiência gratificante para mim e para o meu marido que me apoiou e suportou nesta decisão», salienta.

O facto de ser enfermeira e parteira ajudou-a a escolher esta opção. «Fundamentei a minha decisão na evidência cientifica actual que considera o parto na água uma opção segura e vantajosa e que, por conseguinte, deveria ser uma preferência para todas as mulheres que o desejassem e com condições para tal». Confessa ainda que a dor de parto nunca a assustou, o que só por si é um privilégio se tivermos em conta que este é o maior receio da maioria das mulheres grávidas.

Ao comparar o parto em terra, quer natural (sem recurso a medicamentos) quer com recurso a epidural, com o parto natural na água, Júnia Lima considera que a sua opção trouxe-lhe vantagens relativas aos efeitos da água na fisiologia do trabalho de parto.

«A liberdade de movimentos e posicionamentos que a mãe experimenta estando parcialmente imersa em água aquecida conduz usualmente a uma descida mais rápida e menos traumática do feto pelo canal de parto, pelo que usualmente a imersão em água durante o trabalho de parto está associada a uma menor necessidade de intervenções obstétricas, tais como a utilização de fórceps, ventosas ou o recurso à cesariana».

De salientar que a água aquecida facilita o relaxamento dos tecidos, aumenta a elasticidade e promove um relaxamento geral, permitindo a libertação de hormonas facilitadoras e analgésicas que proporciona uma maior progressão do trabalho de parto e diminuição da dor.

«Quando se entra dentro de água (o que deve acontecer quando já se está em trabalho de parto activo) a sensação de alívio e de privacidade é evidente. Parece que se abre um novo mundo de possibilidades para lidar com a dor. Convém esclarecer, contudo, que o parto na água não tira a dor mas torna-a mais tolerável», assegura a mãe de Simão.

No dia anterior ao nascimento do Simão, Júnia Lima teve a ruptura da bolsa de águas por volta das 18h30.

Apesar de não ter contracções significativas, foi ter com a sua médica que confirmou a situação e lhe disse que mantinha 2 cm de dilatação.

«No final da consulta, por volta das 21h00, comecei a sentir que as contracções estavam a ficar mais fortes e calculámos que alguma coisa iria acontecer durante a noite», afirma. As horas seguintes foram passadas com alguma tranquilidade. A descrição de Júnia é absolutamente convincente.

«Fomos para casa, uma vez que poderíamos vigiar os batimentos cardíacos do bebé e as características do líquido amniótico com regularidade. Com calma, verificámos as malas a levar para o hospital, jantámos, baixámos as luzes, colocámos uma música suave, umas velas e uns aromas agradáveis... Foi a forma que encontrámos para que pudesse relaxar. Utilizei também o TENS desde as primeiras contracções».

O TENS é um aparelho de electro-estimulação transcutânea que promove a libertação de hormonas favoráveis ao desenrolar do trabalho de parto e o alívio da dor e é inócuo para o bebé. Por volta da 1h00 da manhã, as contracções já estavam bastante regulares e intensas.

O marido e uma amiga, também parteira, ajudaram-na a aliviar a dor durante as contracções ao mesmo tempo que Júnia se movimentava de forma a facilitar a descida do bebé e a progressão do trabalho de parto.

«O Simão estava óptimo e a reagir muito bem às contracções. Cerca das 4h00, já tinha uma dilatação de 4/5 cm e considerámos que estava na altura de ir para a Hospital da Ordem da Lapa. O que eu queria era meter-me dentro de água! Avisei a minha parteira e seguimos para o hospital. No carro, as contracções tornaram-se bastante dolorosas e a viagem foi difícil! Quando cheguei ao Hospital, já tinha cerca de 6 cm de dilatação».

Enquanto os especialistas que acompanharam o parto preparavam a banheira, os batimentos cardíacos fetais iam sendo registados e estava tudo bem. «Custou-me muito estar deitada. Ficava bastante mais aliviada dentro de água. Numa altura em que já não sabia o que fazer para lidar com a dor, um mundo novo de possibilidades se abriu! Lembro-me da sensação de estar dentro de um ninho, da sensação de privacidade e aconchego, da liberdade de movimentos e da leveza. A dor continuava lá, bem forte, mas mais suportável», confessa.

O momento tão aguardado chegou às 7h00. Ao seu lado Júnia Lima tinha o marido, que acompanhou todo o parto, a médica obstetra e a pediatra, que mantiveram uma atitude calma e expectante.


«Numa hora, a dilatação ficou completa! No entanto, alguma coisa estava a impedir o bebé de descer pelo canal de parto. As contracções tornaram-se extremamente dolorosas, pois já não tinham um intervalo entre elas que me permitisse recuperar. Estes foram para mim os momentos mais difíceis do trabalho de parto», recorda.

«Implorei mais força a Deus e ajuda para trazer o meu filho ao mundo. Necessitava do meu marido como nunca, só queria as suas mãos fortes nas minhas costas e abraçar-me a ele com toda a força», refere ainda.

O Simão esteve sempre bem, mas não estava a descer com as contracções.

No limite das suas forças, Júnia pediu ajuda e a enfermeira auxiliou o bebé a fazer a rotação e a descer. «Veio a vontade de puxar e não me lembro de sentir mais dores. Finalmente, a cabeça saiu e, num momento inesquecível, a obstetra disse-me para colocar as mãos na cabecinha do meu filho! Que sensação extraordinária! O alívio e o êxtase de finalmente tocar no meu filho pela primeira vez!», confessa emocionada.

Depois das primeiras emoções, a médica pediu a Júnia para segurar no seu bebé. «Eu segurei-o pelos braços, tirei-o da água e coloquei-o no meu peito onde foi abraçado por mim e pelo pai. Rimos, chorámos e abraçámo-nos perante tanta emoção neste milagre da vida! O Simão nasceu às 7h00 da manhã, calmo, reactivo e de olhos bem arregalados a olhar para tudo, como faz ainda hoje!».

De seguida, o pai cortou o cordão umbilical e o Simão chorou pela primeira vez. «Acalmou nos nossos braços e a flutuar na água enquanto a sua saúde era avaliada. A água começou a ficar fria e achei melhor passar o bebé para o pai. Foi examinado pela pediatra enquanto eu fiquei à espera da saída da placenta.

Depois disto, também saí da água para ser observada e tratada. O Simão, só com a fraldinha e o gorro, veio para o meu peito e fomos deixados os três sozinhos. Foi quando o Simão procurou e encontrou a mama, iniciando a amamentação.

Como sonhei com aquele momento! Quase uma hora depois, já bem satisfeito, foi vestido pelo pai enquanto me fui preparar e vestir. Os três, felizes como nunca, caímos nos braços da família e dos amigos que partilharam e celebraram connosco o nascimento do nosso bebé», descreve Júnia Lima.

Voltava a ter um parto na água?

Júnia não quer ficar por aqui e prefere repetir a experiência. «Analisando o parto do Simão, verificámos que há muitos aspectos a serem melhorados numa próxima vez e espero que num segundo filho esta opção seja muito mais facilitada do que a primeira vez. Assim, terei disponibilidade para poder tratar dos pormenores e planear o meu parto com mais tempo e tranquilidade».


Júnia Lima considera que algumas mães têm muitos conhecimentos dos benefícios evidentes do parto na água, mas o problema surge quando «o sistema de saúde não dá resposta a quem quer ter esta opção.

Quem quiser e tiver condições para experimentar um parto na água tem que batalhar e bater a muitas portas para o conseguir».

No entanto, se esta é a sua vontade, não se deixe vencer e procure. Foi o que Júnia fez e o seu caso foi muito bem sucedido.



Os conselhos de Júnia Lima

Escreva!
«Inundem os nossos hospitais de pedidos para ter o parto na água! Um dos argumentos que utilizaram quando me deram uma resposta negativa no hospital público que tentei em primeiro lugar foi de que ninguém opta pelo parto na água, uma vez que o que as mulheres querem é ter um parto com epidural, de preferência sem dor».

«É verdade que a maioria das mulheres o deseja, mas é também cada vez maior o número de mulheres informadas que querem um parto natural no hospital e, dentro destas, muitas querem usar a água como alívio da dor e/ou para o momento expulsivo».

Dê-se a conhecer!
«A luta não é só das parteiras, é das mulheres! Acima de tudo, temos que lutar pelo respeito pelas opções da mulher, seja ela de parto natural ou outro, e devolver o protagonismo do parto à mulher, proporcionando todo o suporte e segurança para que o bebé nasça num ambiente protegido, acolhedor, calmo e tranquilo».

Texto: Cláudia Pinto

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