Earth Song-Michael Jackson-A minha música favorita

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fiji- Mais um destino dos meus Sonhos e que irei






Presidindo às 333 ilhas do arquipélago como uma grande chefe, Viti Levu assegura, desde há muito, a identidade nacional do país. Cenários dramáticos e bucólicos inesperados e uma improvável cultura indo-fijiana fazem deste domínio exótico da Melanésia um destino à parte no Pacífico do Sul


À primeira vista, Nadi podia ser mais uma cidade perdida no hiper-povoado mapa do sub-continente. Os negócios sucedem-se, encaixados em lojas abafadas e geridos por pequenos empresários com enorme apetência para o lucro. Estamos a 11.924 quilómetros de Nova Deli, a capital indiana, mas lêem-se nos letreiros nomes como Singh, Daven, Jaywant, entre tantos outros.

Mais próxima das ilhas do grupo Mamanuca que as restantes cidades, Nadi recebeu um dos aeroportos internacionais e tornou-se o interface privilegiado do turismo de Fiji. Para os visitantes – na sua maior parte, australianos e neo-zelandeses – não passa de um amontoado urbano confuso, de um motivo extra para escapar em direcção ao delicioso mar coralífero envolvente. Movidos pelo susto inicial ou pelo simples desinteresse pela vastidão montanhosa e luxuriante da ilha principal, muitos entregam-se ao sol e ao mar e regressam a casa sem descobrir a grande Viti Levu, a ilha-chefe de Fiji.

Decidimos contrariar a norma e alugamos um carro. Como era de esperar, fechamos contrato com uma família hindu que, além do rent-a-car, explora uma guest-house para mochileiros e uma ramificação empresarial que vende tours e outros serviços, tudo em duas pequenas secretárias antigas de que se eleva fumo de incenso.

“Não, nunca visitei a Índia, nem faço ideia do que lá ia encontrar... Nós, quando conseguimos sair daqui, é normalmente para ir à Austrália”. À conversa com Sharmila, a executiva encarregue do aluguer, percebemos que os descendentes dos 60.600 indianos trazidos pelos colonos britânicos como mão-de-obra barata preservaram, até hoje, a cultura dos seus tetra e penta-avós. No tempo que demoraram a instalar-se e a contribuir para a conquista da independência, perderam, no entanto, o contacto com a pátria-mãe, formando uma espécie de Índia B, que os fijianos indígenas, de origem melanésia, se habituaram ou resignaram a aceitar.

Esgotadas as burocracias, despedimo-nos e seguimos a esburacada Queens Road para sul, determinados em dar a volta à grande ilha.

O turismo açucarado e a amarga Kava
Quilómetro atrás de quilómetro, prolongam-se para o interior as vastas plantações de cana-de-açúcar introduzidas no século XIX. Em tempos principal fonte de rendimento do país, com o advento do turismo a produção de açúcar depressa passou para segundo plano, mas mantém-se operacional, à espera de melhores dias. Enquanto isso, os guias divertem-se a repetir durante os tours que comandam: “...for now, tourists are just sweeter than sugar”.

Aqui e ali, à beira da estrada, sobressaem, na paisagem verde, casas campestres, humildes mas garridas, decoradas por pinturas e estendais de todas a cores. Para evitar confusões, as famílias hindus dão a conhecer a sua fé posicionando pequenas bandeiras vermelhas no exterior. Já as habitações e outros edifícios muçulmanos são pintados de verde e branco. Aos fijianos indígenas, qualquer cor, ou até mesmo nenhuma, serve. Estes vivem maioritariamente em aldeias compostas de evoluções das palhotas tribais. Relacionam-se através de grandes grupos familiares, os mataqalis, e reconhecem um chefe hereditário, quase sempre homem. Preocupam--se em manter as portas abertas a quem os queira visitar, contribuindo para uma das hospitalidades mais genuínas do mundo. São os autores da expressão nacional: bula, palavra-chave, que significa simultaneamente “olá” e “bem-vindo”, normalmente proferida com um sorriso nos lábios. Todo o contacto começa por aqui. Apesar de as amizades duradouras seguirem a mesma regra, em Fiji devem consolidar-se com a partilha regular de kava, uma bebida obtida das raízes da planta homónima. Não demorámos muito a experimentá-la.

Chegados à foz do Navua juntamo-nos a um grupo prestes a subir o rio até às enigmáticas Namosi Highlands. A primeira parte da expedição contempla uma visita a uma aldeia típica, e, como manda a tradição, inclui uma cerimónia de recepção com oferta de kava. Do lado da aldeia, é o chefe Tui quem conduz o protocolo. Em representação dos estrangeiros está um líder de conveniência escolhido pelo guia local, com a concordância do resto da comitiva. Os dois ficam sentados frente a frente, ladeados pelos outros elementos da representação. Dá-se uma troca interminável de palavras entre Tui e o guia Wilson – seu filho e herdeiro do cargo – de que se destacam, pela repetição, inúmeros naka, diminutivos do obrigado fijiano, que, na íntegra, se diz vinaka. Terminado o diálogo, o chefe Tui espreme as raízes de kava para uma tanoa – grande recipiente esculpido em madeira. A bebida, alcoólica e amarga, é finalmente servida aos participantes e gera reacções que vão da repulsa à indiferença.

Habituados ao desconforto dos forasteiros, os anfitriões dão início a exibições de danças tradicionais meke, primeiro masculinas e guerreiras, depois, graciosas, femininas. Após o almoço, o carismático Wilson retoma a palavra e descreve o passado longínquo da sua aldeia e a arrepiante vida tribal das Namosi Highlands.


Passatempos nacionais: o canibalismo e o cabelo
Como noutras ilhas da Melanésia, o canibalismo fez parte do dia-a-dia de Fiji desde há 2500 anos e até ao fim do século XIX, altura em que os primeiros missionários que escaparam conseguiram banir os seus rituais hereges. Wilson espanta a plateia contando que, na sociedade tradicional de Fiji – uma sociedade altamente bélica – comer os inimigos era considerada a mais requintada forma de vingança, um insulto derradeiro às famílias e aos espíritos de partida.

Finda a narrativa, o grupo regressa ao Navua com o objectivo de atingir as primeiras montanhas Namosi e a sua misteriosa selva, onde o clima tropical, marcadamente quente e húmido, cria uma atmosfera vaporosa que se vislumbra à distância. A garganta que acolhe o rio aperta à medida que avançamos para o interior, passando por longas quedas de água que se precipitam das falésias. Ao mesmo tempo, a floresta de morning glory (uma avassaladora trepadeira de flores vistosas) e bambu adensa-se, criando um ambiente misterioso e potencialmente assustador, que pareceu ideal ao realizador de “Anaconda 2: The Black Orchid” para ali rodar mais um filme de fugir da famosa saga réptil.

De volta à estrada, recuamos até Pacific Harbour e espreitamos o mercado local, um reduto comercial sui generis, estagnado por aparente falta de facturação, aquém do requinte dos resorts em redor. Entramos numa loja de antiguidades e damos de caras com Rokodage Bello, dona do negócio e de um esplendoroso penteado.


Em tempos recentes, os fijianos chegavam a passar dias inteiros com os seus cabeleireiros. Os homens aperfeiçoavam enormes “capacetes” negros, azuis, laranjas, amarelos, brancos e às riscas coloridas, por vezes com trinta centímetros de altura. O objectivo era tão só reforçar o estatuto social e a masculinidade de cada individuo, uma preocupação limitada por regras inequívocas. O cabelo de um aldeão nunca poderia ultrapassar o do chefe. Já o das mulheres, tinha de ter um volume inferior ao dos maridos.

A moda desvaneceu-se e, apesar de se encontrarem ainda enormes bolas capilares, exemplares como o de Rokodage tornaram-se raros. Como tal, pedimos para a fotografar, ao que reage com indisfarçável orgulho: “claro, dêem-me só uns segundos para me ajeitar! ”. Terminado o primeiro minuto, a senhora contínua de escova em riste. Sugere que nos sentemos, sublinhando que ninguém está com pressa. Ajustada a flor atrás da orelha, comunica-nos finalmente que está a postos e protagoniza, sem qualquer cerimónia, uma fascinante exibição de vaidade.

Da capital ao paraíso Mamanuca
Saímos em direcção a Suva. A manhã seguinte é passada nesta capital portuária pouco atraente em que se destacam, do cimento dominante, uma extensa frota de autocarros coloridos e alguma arquitectura histórica. É também em Suva que têm origem os golpes de estado operados pelos militares fijianos. De tal forma banais que, apesar de a Commonwealth e a comunidade internacional os levarem a sério, muitos Aussies e Kiwis já de férias no arquipélago ou com férias ali planeadas, se habituaram a ignorar.A costa leste de Viti Levu consegue ser ainda mais húmida e luxuriante que a oposta, quase sempre ensopada pela chuva interminável. Por razões óbvias, fica aqui a zona menos turística da ilha, onde predominam os fijianos melanésios, distribuídos por aldeias inicialmente perdidas na floresta tropical que, com o tempo, se aproximaram da estrada e dos visitantes.

A Kings Road, por onde seguimos caminho, revela-nos, a partir de Korovou, as paisagens espantosas do norte e nordeste. Impõe-se, contra o horizonte, a cordilheira Nakauvadra, que se desdobra em montanhas rochosas com formas dramáticas e tons suaves de terra, verde e amarelo que deixariam em êxtase qualquer pintor.

Com oitocentos habitantes, Navala surge isolada num destes cenários do interior. É a aldeia fijiana mais pitoresca de Viti Levu e, provavelmente, a mais visitada da ilha. Agrupa dezenas de grandes casas bure, dispostas ao longo de uma encosta suave que se ergue a partir do rio Ba e com vista para a secção inicial das Nausori Highlands. Os pontos destacados destas elevações voltam a revelar o retalho interminável de cores com que a vegetação tropical e sub-tropical decorou a superfície vulcânica de Viti Levu.


À distância, impõe-se a outra Fiji, a de todos os posters, postais e sonhos.Mamanuca e Yasawas são sub-arquipélagos ansiados pelos visitantes adoradores do sol. Quando a visibilidade aumenta, logo a seguir às chuvas, o primeiro quase se percebe de Nadi, cidade algo caótica onde se concentra o maior número de hotéis. Graças a essa proximidade, depressa foi “domesticado”. A maior parte das suas ilhas acolhe um ou mais resorts, com alvos de marketing inequívocos.

À imagem das vizinhas do sul, as 20 Yasawas são destinos idílicos de praia, perfeitos para snorkeling e mergulho. Maiores e mais selvagens, surgem protegidas por 90 quilómetros de labirintos de coral que os pescadores das aldeias locais exploram no dia-a-dia.

Terminamos a descoberta da grande ilha voando sobre a sua costa oeste e as Mamanucas, num curioso hidroavião convertível, também equipado para as pistas de asfalto.

Deixada para trás Nadi, são precisos apenas alguns minutos para avistarmos os recifes e bancos de areia que salpicam o oceano de verde-esmeralda e azul-turquesa. Apesar de comum no imenso Pacífico, o cenário é difícil de desdenhar. Fica-nos, na memória, como mais um adereço encantador de Viti Levu, o coração de Fiji.


COMO IR
Através de companhias aéreas membros da Star Alliance (www.staralliance.com) é possível voar de Lisboa para Sydney ou Auckland a partir de €980.
De Sydney ou Auckland, várias companhias completam o longo trajecto voando para Nadi e Suva, na ilha de Viti Levu. Informe-se em Virgin Blue (www.virginblue.com.au), Air Pacific (www.airpacific.com), Air New Zealand (www.airnewzealand.com).

QUANDO IR
O Inverno Austral (de Junho a Setembro) quando as temperaturas e a humidade diminuem significativamente, é a altura do ano mais confortável para visitar Fiji. Este é também o período em que os ciclones não visitam o arquipélago.




INFORMAÇÕES ÚTEIS
Formalidades: É necessário apenas passaporte válido para seis meses. O visto pode ser obtido à chegada a Fiji.
Moeda: Um Euro equivale a 2,88 Dólares de Fiji (FJD)
Idiomas: O Inglês é predominantemente falado. As principais línguas nacionais são o Bau de Fiji e o Hindustani, este falado entre a comunidade indiana.
Cuidados de saúde: Além dos cuidados próprios de todos os destinos tropicais, nenhuma preocupação digna de registo.
Não esquecer: Máquina fotográfica, guia de Fiji, adaptador universal de energia, repelente de mosquitos, protector solar.
Transportes: As melhores formas de descobrir Viti Levu são o carro alugado, que permite conduzir em redor das duas principais ilhas, e os ferries e veleiros, que viajam entre estas e as outras ilhas paradisíacas ao largo.
Compras: O mercado requintado de Pacific Harbour acolhe uma grande variedade de lojas de artesanato, velharias e produtos típicos de Fiji, em geral. O mesmo acontece com o de Denarau. Ambos têm, no entanto, preços bastante altos.



ONDE FICAR
Convenientemente localizada na proximidade relativa do aeroporto e junto à marina de onde parte a maior parte das embarcações para os arquipélagos Mamanuca e Yasawa, Nandi e Denarau são os grande pólos turísticos de Viti Levu.

Em Nadi
Entre a marina e o aeroporto homónimo, esta cidade algo caótica recebeu a maior parte dos hotéis de baixa e média gama de Viti Levu. É conotada com o turismo mochileiro, mas também tem as suas estruturas de luxo.
Tokatoka Resort Hotel – Baixo em altura mas de qualidade elevada, este hotel optou, com sucesso, por materiais integrados no ambiente tropical. Oferece um restaurante, spa e um mini aquaparque. Queens Rd, tel. (+ 679) 672 02 22, e-mail tokatokaresort@connect.com.fj. Duplos desde € 65.

Em Denarau
Organizada em redor da marina e a poucos quilómetros de Nadi, Denarau aperaltou-se para acolher vários hotéis da cadeia Sheraton.
Sheraton Fiji Resort – Hotel de luxo com ambiente a pender para o Mediterrâneo. A maior parte dos quartos tem vista para o mar. Tel. (+ 679) 675 0700, www.sheraton.com/fiji. Duplos desde €190.
Sheraton Royal Denarau Resort – O mais velho da cadeia é também o hotel que melhor reteve o ambiente Fiji que construiu de origem. Tel. (+ 679) 675 0000, e-mail heratondenarau@sheraton.com. Duplos a partir de €220.

Em Southern Viti Levu & the Coral Coast
Naviti Resort – Verdejante e algo subtil, apesar de gigantesco, este resort possui spa e campo de golfe de nove buracos, para referir apenas alguns mimos. Queens Road, tel. (+ 679) 675 0000, www.navitiresort.com.fj. Quartos duplos a partir de €120, Suites a €200.
Outrigger on the Lagoon – Quartos elegantes com vistas privilegiadas fazem do Outrigger uma óptima escolha. Queens Road, tel. (+ 679) 650 0044, www.outrigger.com/fiji. Quartos duplos desde €205.

No Pacific Harbour
Pearl South Pacific – Foi recentemente renovado e transformou-se num dos melhores hotéis do país. Queens Road, tel. (+ 679) 345 0022, www.thepearlsouthpacific.com. Duplos a partir de €104, suites a partir de €225.

Nas Ilhas Mamanucas
Plantation Island Resort – Situado na ilha Malolo Lailai, parte do grupo das Mamanucas, fica a apenas 10 milhas da costa, a oeste do aeroporto internacional de Nadi. Possui alojamento em quartos de hotel e em cabanas tradicionais bure, em cima da praia. Diárias a partir de €95. www.plantationisland.com

MAIS INFORMAÇÕES
Visite os sites www.lonelyplanet.com/fiji, www.fijime.com e www.fijitourism.com
Consulte o guia de viagem da Lonely Planet dedicado às Fiji


Texto de Marco C. Pereira | Fotografia de Marco C. Pereira e Sara Wong

Sem comentários:

Enviar um comentário